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30 novembro 2004

Ainda assim sem salvação

Algumas pessoas são tão especiais que o menor gesto de gentileza é divino.
Que a mais curta palavra transforma-se dentro da gente como um sopro de esperança.
Que a mais triste constatação é feita com um sorriso que nos abre para novos olhares sobre a vida.
Que quando olhamos para trás sentimos que não estamos sozinhos.Não nas nossas convicções.

São essas poucas pessoas que me fazem acreditar que mesmo sem salvação, há um caminho.

28 novembro 2004

Estranha é a vida

....Sem nexo. Como muitas coisas. Como quase tudo. Como o que não percebemos. Como o que não engolimos. Quando acredito que a vida é estranha é como se eu me julgasse normal, uma pessoa comum, à procura de nada de mais, e que acha barreiras nada normais, para coisas comuns. Isso é estranho. É estranho querer tão pouco e conseguir nada além do que menos preciso. Ou menos quero. Ou julgo menos querer.


24 novembro 2004

Palavras estranhas

....Não sei se na casa das outras famílias se fala um dialeto próprio, mas lá em casa se fala. E isso foi traumático na época de colégio até a adolescência. Imagina tu chegar na escola, usando expressões que ninguém conhece, misturadas com uma língua que lembra o italiano....trágico. Sofri discriminação. Risos ecoando nos corredores e me assustando. Não bastava ser a erradinha da turma, tinha ainda que falar estranhices...

....Esquecendo os traumas, até que é engraçado. Hoje eu e meu irmão nos matamos de rir quando nossa mãe vem com uma das suas pérolas. A coisa mais engraçada do mundo é ver meu irmão ensinando inglês pra ela, que escorrega nos erres o tempo todo....ahahahahahahaha. Ela é muito engraçada. Meus amigos gostam mais dela que de mim. Vamos às palavras mágicas de Helena's World.


>> Bisígoli. Isso quer dizer algo parecido com risquinhos. Minha mãe sempre dizia que meus olhos eram bonitos porque tinham bisígolis. Ou seja, eles têm manchinhas marrons, azuis, risquinhos, bolinhas de outras cores, enfim, é todo errado.

>> Strapolon. Ela sempre chama o Eliseu de Strapolon porque ele nasceu atrapalhado. Ele é o desajeito em pessoa, quebra, derruba, derrama, cai, ih, é um descoordenado. Isso é ser strapolon.

>> Butchon. Butcho (assim se lê, não sei escrever) significa leitão em italiano. Mas como dona Helena coloca sempre um “n” no final de todas as palavras, ficou butchon, que ela usa para identificar os vizinhos bêbados que ficam mijando na rua.

>> Potchaca. Esta palavra tem variantes: spotchacado (aquilo que é potchaca); spotchacon (aquele que faz a potchaca); e traduz a meleca total e grudenta. Quando chove e dá muito barro minha mãe diz que a rua está uma potchada. Quando meu irmão suja a cozinha tentando fazer comida ela chama ele de spotchacon. Já notaram que nunca tenho culpa de nada não é? Hihihihihi.

>> Sporcatchon. Sujinho, porco, sinônimo de spotchacon, só que além de fazer meleca, o sporcatchon é porco, ou seja, se suja junto.


....O texto já está longo. Vou guardar o resto do vocabulário helenístico para amanhã.
....Não percam os próximos capítulos de “Helena's World”.

22 novembro 2004

Diga não à atualização

....Ok. Digam não à atualização de blogs que pregam o caos.

....Adeus mundo cruel, até a próxima terça-feira. Rezem bastante, tomem seus comprimidinhos na hora marcada e não deixem de apertar a mão das visitas.

18 novembro 2004

Atropelos sonolentos

....Que sensação deliciosa é o sono. Eu acho. Ele te deixa cada vez mais fora de tudo o que ferve, cada vez vai te derrubando e tu te entrega na calmaria de não pensar em nada de útil. No calor ele é ainda mais irresistível, nas reuniões de trabalho ele é sacal e na hora de estudar, seu inimigo número um. Mas é indescritível o prazer de fechar os olhos e sentir uma brisa no rosto quando o desgraçado nos rende.

....Gosto do sol para dormir no inverno, nem que seja de pé, escorada num prédio branco, que cega a gente e deixa o sol ainda mais gostoso. E no verão dormitar no vento fresco, o que é difícil achar. Mas não é dormir, é dorminhocar, é fechar os olhos, ouvir o que acontece ao redor sem perder a consciência mas pendendo os pensamentos para o nada.

....Boa noite.

17 novembro 2004

Imutabilidades (que título idiota)

....E se existir mesmo uma razão? Esse pensamento é sacana. E se existir mesmo um destino imutável que mutila nossas tentativas de desvios? É possível. Um personagem de Érico Veríssimo diria: é possível mas não provável. Nem lembro. Sou péssima de memória. E de outras coisas. E de vida. Mas se não houver razão não faz sentido. E se houver é muito triste. Resta saber o que é melhor: se é ser triste ou ser sem sentido. Não é só assim. É de milhares de jeitos e quanto mais jeitos tem de se ser, mais gente tem confusa. Somos de um jeito tão estranho que queríamos ser de outro. Falo na primeira pessoa do plural porque a primeira do singular tem um dedo indicador enorme apertando minha moleira. O tempo todo. Para ser cool, all the time. Para ser comumo tempo e o todo.

....Um destino imutável: isso facilitaria o troco. Sofreríamos (1ª pessoa do plural) menos. Trabalharíamos (1ª pessoa do plural) menos. E sobraria uns vinténs para gastar com bobagens como sorvete seco. Aqueles que vêm como anel de resina junto. Nem tão bobagens. Poderíamos (1ª pessoa do plural) comprar um óculos mágico e ver as pessoas pela virtude maior. E qual seria a minha? E a tua? Ai minha moleira. Acho que não é uma boa idéia pensar em virtude maior, não teríamos (1ª pessoa do plural) grande coisa para mostrar. Até porque de boas intenções o inferno está cheio. Ao menos é o que um dia me disseram. Deixa a moleira descansar sinhá.

16 novembro 2004

Bratislava fecha suas portas

....O céu está fechado para balanço. Vi quando Deus mandou seus capangas interditarem os acessos e distribuírem senhas para as almas que estavam na enorme fila que se formava em frente à entrada do paraíso. Até para morrer tem fila.

....Mas não é isso que preocupa as divindades. O que lhes é incômodo são as bocas sujas. Muitos anjos andam espalhando a discórdia e o paraíso se torna abalado. Ninguém mais quer morrer e ir para o céu. As pessoas estão desconfiadas. O demônio por vezes parece mais cândido. E é. E é. .. O negócio é mesmo arrancar as asinhas de quem anda respondendo de maneira contrária à política divina as pesquisas de satisfação do éden. Que se fodam esse bando de anjos bagunceiros! Arruaceiros! Fedidos metidos e safados! Vamos cortar a asa e a língua desse povo.

....Vamos implantar qualidade no novo paraíso.

12 novembro 2004

N.a.d.a. a. d.e.c.l.a.r.a.r

....Para não apanhar faço o comentário da noite de ontem. Um passeio à cidade grande, como diria um caipira assumido, para ir ao cinema. O filme: O Âncora. Muito engraçado. Só não ri mais pois estava com os dentes chorando. Mas tudo bem, valeu para alisar a semana tão contraída. Eu é quem não era uma boa companhia.

....Queria fazer uma ressalva da ideologia sem salvação: corinho se diverte. Estou de camarote assistindo em câmera lenta o drama da vida de quem desce do salto. E imaginando as próximas vítimas do sistema. Carnificina pura. Melhor que o pior dos filmes de terror. Melhor que qualquer filme, na verdade, é ver o dramalhão de quem desce a montanha dos escolhidos por deus a desfrutarem em terra dos prazeres da luxúria.

....Deus me dê saúde para estar viva até o final dos tempos. E dinheiro para comprar pipocas. E paciência para precisar esperar tanto para ver os próximos capítulos da novela "Bratislava: um passaporte para a diversão".

11 novembro 2004

Coluna do Abnegadus

"Faça um pouco mais, tente..."

Este não é um teste de auto ajuda, e sim uma manifestação contraria a
todas as normas governantes das relações sociais. Minha indignação tomou
forma após ter lido o um jornal interno de uma empresa. Um ser iluminado
escreveu um texto ressaltando a importância de fazermos mais do que
nossa função, mais do que aquilo que normalmente fazemos; em suma:
vestir a camiseta e trabalhar de graça. Novamente vem a tona a idéia do
colaborador, o corinho subornidado que ganha pouco, trabalha como se
ganhasse muito e acredita que algum dia vai ganhar mais. Concordo com a
afirmação de que o dinheiro não é tudo, afinal, ele é feito somente de
papel e metal, e disso não passa. Não traz felicidade? Certo, mas manda
buscar. E os mijos? Escárnios? Escravidão?

Hipocrisia é uma característica do mundo corporativo. Só te cumprimentam
quando tens algo a dar, se podes trazer algum benefício ou para
simplesmente forjar uma situação de compaixão e preocupação. Fdps, vão
sfd. Sou um corinho e não acredito nas falsas promessaso de ascensão
profissional. Plano de carreira? Para quem? Ninguém chega lá - seja o
que for esse "lá" que nunca vi - sendo bonzinho, baixando a cabeça,
ouvindo e cumprindo ordens. Nem mesmo boas idéias são ouvidas e
recompensadas, somente plagiadas.

Todos querem meu sangue, teu sangue, nossas víceras. Só falta
entregarmos nossos órgãos para a empresa, darmos nossa consciência aos
patrões sangue-sugas e nossa vida ao mercado. Não somos colaboradores
porra nenhuma. Continuamos sendo escravos como a 100 anos atrás ou até
mesmo pior: antigamente a ferrolho e os grilhões eram vistos,
palpáveis, de madeira ou ferro. Hoje, a tortura mental faz o trabalho,
bem feito por sinal. Alienados, induzidos: porcos escrotos. O povo não
sabe a força que tem por não ter força alguma, apenas ar, simplesmente
ar, só vale enquanto respira. Morram, desgraçados, cortem seu pulsos.
Façam aquilo que não têm coragem para fazer. Estarão livrano o mundo de
mais um maníaco-depressivo, triste, infeliz, mero confiante no
crescimento apoiado na bondade e solidariedade. Queres meu jornal para
ler o texto? à vontade, use-o como bem quiser...


Por Abnegadus

09 novembro 2004

Amenidades melodiosas

....E a vida continua seu caminho torto, e eu ouvindo Etta James. Amo Etta James. Damn Your Eyes e Don't Cry Babe são duas músicas divinas. Dignas de um vinho gostoso e forte, numa noite de chuva. Ah, não é romantismo, mas eu amo jazz e blues. Poderia ficar horas dançando sozinha no meu quarto o “I just want to make love to you”. Sim, eu tenho problemas. Qual é, eu também falo sozinha às vezes. Meu anjo me contou que ele faz discursos no chuveiro. Então ganho perdão.

....Estou tão absorvida que minha colega de trabalho acabou de pedir se eu não estaria surda, pois ela estava ouvindo Etta pelos meus fones de ouvido, a um metro de distância de mim. Mas acho até que faria o estilo dela, a gente combina em gostos para música. Mas o resto acho que não. No risco, fico com os fones e não socializo meus orgasmos musicais.

....Uma música que talvez alguém conheça é “I'd rather go blind”, gravada a pouco tempo por The commitments. Era isso. Hoje o dia está meio jazz. Um estado de espírito pesado mas aliviado pela chuva.

08 novembro 2004

A salvação é dicotômica. Prostituta.

....Vou pedir um autógrafo ao demônio. Ele faz pessoas más perfeitas. Deus não conseguiu fazer uma pessoa boa perfeita. Vocês já pensaram nisso algum dia na vida de vocês? Putaquepariu, Lúcifer é muito mais competente que Deus. Será que eu vou pro inferno por escrever essas heresias? Bem, isso não importa agora, o fato é que os maus são mais competentes que os bons. Claro que essa minha visão dicotômica de dividir pessoas em dois lados opostos vai totalmente contra a minha convicção de que somos todos quase iguais. Mas eu nunca disse que não era contraditória. E como sou! A mente vai de um lado para outro, como um pêndulo que ao invés de contar o tempo, chora.

....Voltando aos joios e aos trigos, é possível que realmente o demo seja melhor. É possível que não exista bem e mal também. Na verdade, tudo é possível, até a salvação. Será que a Malvada encontrou o caminho do bem? Ah não, esquecem que tudo aqui é uma grande mentira? A vida é uma mentira. Se nós absorvêssemos um centésimo da verdade da vida nos mataríamos. Por isso que pensar enlouquece. Por isso precisamos sair nos fins de semana para festas e ficar bebendo até as 5 da manhã. Por isso precisamos trabalhar como condenados. Assistir à programação dominical e comentar da vida dos astros e das estrelas, sempre gloriosos, sempre do bem. Economizar trocados para ir pra praia, torrar no sol e comer milho, e jogar a espiga na beira da praia. Ir comer Açaí com banana em Atlântida e ficar olhando aquele bando de bundões que só faltam levar plumas, paetês e smoking à beira de um mar sujo mas colorido por biquínis e sungas da mormaii.

....Tá, agora chega. Vou rezar a ave maria, o creio, e tudo vai ficar bem. A Igreja nem vai saber de nada e vou poder ir comungar no domingo. Como fazem as famílias de bem. As incompetentes.

07 novembro 2004

Fugas na janela do meu quarto

....Para onde fugir? Para que fugir? Por quem fugir? São muitas perguntas e poucas ações ultimamente na minha vida. Queria dar uma rodopiada de 180 graus, mudar de faculdade, de emprego, de cidade. Fugir de tudo e de todos. Nada está bom agora. Agora não. A sorte nunca foi muito com a minha cara, sempre notei suas risadinhas sarcásticas quando eu achava que podia contar com ela. Tá certo que as pessoas também não colaboram. Mas mas, mesmo assim até hoje ela não me derrubou.

....Neste sábado fui à feira do Livro de Poa. Comprei dois livros muito bons: “Lendo imagens”, 57 pila, e “Nas margens”, por 25. Comprei também dois pockets, o “Hamlet” e “O jogador”, do Dostoievski. Quero ler todos desta vez. Há dois anos comprei três livros numa outra feira e até agora só li a metade de um. Desta vez acho que vou ter mais entusiasmo para essas pequenas fugas. O clima psicológico do meu velho e carente quarto está propício para boas leituras. Vou me enfiar num copo de café, pegar a lanterna mágica e tentar descobrir um projeto de pesquisa para fazer semestre que vem. Mas os assuntos que me interessariam não são da área do professor que eu quero que me oriente. Aposto que vão me empurrar outro. Aposto. Conheço o sistema. Conheço o preenchimento das horas. Droga de curso que já me encheu o saco.

....Estou aprendendo que odeio mais coisas do que antes. Também notei que amo mais pessoas que outrora. E estou fodida por ter gasto mais de cem reais em livros. Acho que vou me atirar da janela do meu quarto...lá embaixo tem britas cinzas e uns capins querendo aparecer, como nós quando queremos ganhar um aumentozinho, lutando contra as britas e contra os venenos que minha mãe insiste em colocar neles. Pobres capins. Não conseguem vir para fora. Pobre Malvada, enterrada com seus elogios, cada vez mais custosos para engolir. Pobre do destino, que tem que assistir a esse dramalhão e ficar imparcial. Pobre do veneno, que poderia ter um fim mais útil. Não adianta me envenenar, bastaria um arrancão para acabar comigo. Essas pessoas são muito burras, desperdiçam munição à toa. Ao invés de combater as heras, que andam de arrasto e tomam conta sem serem percebidas, ficam perdendo tempo com capins filhosdaputa que servem até de remédio para gatos com dor de barriga. Vocês sabiam que gatos comem capins quando estão com diarréia?

04 novembro 2004

Sem Salvação

Se não existe salvação, não preciso atualizar.
Pensem sobre Jesus e coloquem um comentário a respeito. Ontem meu colega disse pra mim que eu não tenho Jesus no coração, quem sabe vocês conseguem colocá-lo.

02 novembro 2004

O homem de smoking

....Fim de semana do cão. Minha mãe de cama, com 40 graus de febre e eu quase louca, de um lado pro outro querendo levá-la ao Hospital. E ela bravamente e teimosamente batendo o pé. Mãe é o bicho mais estranho que tem: é só darmos uma tosse que estão movendo céus e terras, arrancando todos os chás do quintal e empurrando goela a baixo gororobas que prometem curas. Mas quando elas ficam doentes, colocam-se no altar dos inatingíveis, disfarçando tosses avassaladoras com desculpas como engasgo. O sábado e o domingo todo com febre. Fui grossa e enérgica, nunca gritei com tanta audácia com minha mãe, mas funcionou: fomos ao pronto socorro.

....Fiquei esperando do lado de fora. Minha mãe ficou quase duas horas dentro do hospital, fazendo exames e sendo medicada. Foi quando sentou-se a meu lado, no murinho da calçada, um senhor vestindo um fabuloso smoking. Não pedi seu nome, mas perguntei o que ele tinha.
- Coração... ele ta apertado.
Pretendendo me fazer mais íntima e iniciar uma conversa de vovô, o senhor tinha 76 anos, reclamei da demora. Ele me contou que estava desde as 8h esperando (já eram 19h) e ainda não tinham dado jeito nele. Pedi se ele permitiria que eu tirasse uma foto dele. Bendita hora que lembro de levar minha máquina sempre comigo. Ele sorriu, sorriu muito, e disse que fazia muitos e muitos anos que não tirava fotos. Timidamente, diante da grandeza daquele homem, tirei a máquina e fotografei de onde eu estava, sentada ao lado dele. Ele mostrou um sorriso murcho, quase desmaiado. Senti vontade de chorar. Ele tinha um boné azul com propaganda política e um smokig.

....Me perguntei quem teria a maldade de doar para um pobre um smoking. Não parece assustador a vocês um filhodaputa doar um smoking? Não? Acho muito cruel. Na certa é muito proveitoso para alguém que vive no limiar da miséria usar roupas de gala. O vovô conseguiu arrancar risos de alguns transeuntes sem coração que por ali passavam. Não vou publicar a foto.