Ditaduras do verão

....Sou avessa ao sol. Ao menos no verão. O que no inverno é minha maior paixão – ficar lagarteando, no verão é tão tedioso quanto amedrontador: é verdade, eu morro de medo do sol. Na praia, um fiasco. Mais de hora e meia até se certificar que o bloqueador 30 cobriu toda e qualquer superfície do meu corpo. Não bastasse isso, corro pra baixo de um guarda-sol ou então levo canga e me cubro, mesmo indo em horário “permitido”. É uma fobia, sim, com certeza. Enfim, neste feriadão, não foi diferente. Mas, como sempre, minha vida não está nada perto de ser o “de sempre” da maioria das pessoas.

....Chega o dia de sol, vai lá a Malvada repetir a via sacra do filtro solar. E passa, e passa, e alisa. Todos batendo à porta do quarto querendo saber se morri afogada no meio dos cremes. Belezura – rumo à praia. Lá chegando, me cubro com a canga pois ainda era horário de pico e eu só tinha ido pra acompanhar os apressadinhos, já que por minha vontade, esperaria às 16h30. Só que canga alguma cobre uma mulher de 1,75m...e lógico que meu rostinho sardento não poderia ficar exposto...pois foram os pezinhos, meio enterrados na areia, a ficarem lagarteando indefesos. Mas eu tinha passado filtro nos pés. Mas não nos dedos do pé.

....De noite, meus dedinhos pareciam rabanetes em conserva: inchados e rosadinhos. Mas...como sou avessa ao sol, a ditadura do bronzeado me obrigou (com um revólver na cabeça) a comprar loção auto-bronzeadora (a invenção da roda para as albinas medrosas). Só que eu só tinha levado a loção, nenhum outro hidratante. Nem pensei duas vezes: meti auto-bronzeador nos dedos até ficar uma papa por cima deles. No outro dia, acordei com os dedos rosas e as cutículas das unhas dos pés pretas. Parecia que tinha ficado a noite toda carpindo em terra vermelha. Após 5 dias na praia estou eu branca, com os dedos descascando e coçando e com as cutículas pretas. Fico pensando quando vou fazer algo diferente de comer e cagar sem que minha vida pareça uma novela mexicana.