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18 novembro 2006

Historinhas tristes

....Aula de ética e legislação em comunicação: entra em pauta o assunto pobreza. Uma colega começa a defender a idéia de que pobre é pobre porque quer, porque não luta, porque é vagabundo. O que não me causou espanto. Sempre tem gente que acha que as pessoas são as únicas responsáveis por seu próprio destino (eu quero ser âncora da Globo, vou lá, luto e consigo. Vão se foder). O que me deixou perplexa foi ver que toda a turma concordava com isso. Como não sou boa advogada, não sei organizar direito meus pensamentos (o que me faz ter um ódio cada vez maior por advogados - aliás, decidi que jamais discutirei qualquer assunto com qualquer um deles - sim, sou preconceituosa e estou generalizando, toquem pedras na Geni), minha opinião foi massacrada, somente o professor concordava comigo, embora sem muita convicção em seus argumentos.

....Estou quase me formando. Me dói ver o nível no qual se encontra o conceito de "social" dos jornalistas que estão indo pro mercado. A menina se baseou na sua triste história de vida: filha de pais pobres, teve de lutar muito para conseguir chegar onde chegou. Para ela, qualquer um que tiver estímulos dos pais para estudar e batalhar, como ela teve, conseguirá chegar lá. Tá bom gente, vamos todos agora dar as mãozinhas, lutar e trabalhar, e a pobreza do mundo vai acabar! Gente burra....até os excluídos já se deram conta que essa histórinha de "trabalha vagabundo que tu vai melhorar de vida" não cola. Viver do assistencialismo é uma consquência das condições impostas pela sociedade, e não a causa da resignação a uma vida custeada pelo governo e da falta de vontade de trabalhar. Não me venham com essa teoria maluca de que são pobres porque gostam de viver às custas do governo. Não me venham com histórinhas ridículas de "como eu lutei para vencer a pobreza" e "se todos seguissem o meu exemplo a pobreza não existiria". Podem se largar nas cordas sim, mas isso não é a causa de sua pobreza, e sim, a consequencia. Não existe perspectiva. Me dá nojo ver o otimismo heróico que algumas pessoas têm. Exatamente o mesmo discurso neoliberalista: o sistema perfeito! Permite-se que alguns poucos indivíduos consigam ascender, para servir de exemplo aos demais, e assim, alimentar o absurdo que é a sociedade: alguns vivendo com muito, quase todos vivendo com pouco. Afinal, os dados foram lançados: todos têm chance de ganhar na mega-sena! Palhaçada.

....Por fim, chego a questionar minha visão das coisas: será que estou eu a viver na sombra? Estarei lendo os livros errados, enxergando coisas que não existem, julgando, como a referida colega me acusou, "as coisas de cima, pela ótica de filósofos que nada entendem da pobreza como ela, que viveu e venceu a safada"? Bem, segundo a turma toda, sim. Estou errada. Pobre é vagabundo, safado, gosta de viver às custas do governo. Tudo é uma questão unicamente cultural. Ou seja, tiremos das costas do governo qualquer responsabilidade pela miséria ou má distribuição de renda, afinal, pobre é pobre porque quer. Pensando assim, meus caros, eu, como uma batalhadora nata (aliás, uma de minhas únicas qualidades - chego a esta conclusão depois dos sucessivos acontecimentos), estarei em breve derrubando o Diogo Mainardi para assumir seu posto. Afinal, se eu quero, se eu luto, eu consigo. Nada mais importa. Posso não ter argumentos ou texto bom o suficientes, mas garra eu tenho. Isso basta. Basta!