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13 março 2006

A vida como ela não é

....Conversei com meu grampeador este final de semana. Estava cansada de meus amigos e resolvi dar um tempo no meu quarto. Ele é pequeno, daqueles compactos, do tamanho certo para quem usa fichário e é desorganizado como eu, precisando prender as coisas para elas não voarem. Eu não me importo com o tamanho das pessoas, desde que elas cumpram seus papéis em nossas vidas. O grampeador é um exemplo. Ele me contou uma história bem interessante.

....Sua família é numerosa, e ele sempre foi o menor. Desprezado por isso, se acostumou com a idéia de ficar de canto e sem amigos para conversar. Até que eu apareci na vida dele e o coloquei na minha pasta da faculdade. No início, a vida dele não tinha sofrido grandes alterações. Minhas canetas, todas brindes de empresas, eram muito nojentas e competitivas, tentando sempre ser uma mais que a outra. O clima de briga acalmou quando, há uns dois meses atrás, ganhei uma caneta de brinde com laser, aquelas para apontar apresentações em Data Show. As outras canetas, vendo que não chegavam aos pés da qualidade inegável e do bom acabamento da srta. Laser, desistiram das disputas de ego e passaram a se preocupar com minhas preferências, uma vez que perceberam que a Laser só era usada para fazer fotos toscas em B (velocidade controlada pelo fotógrafo). Unidas e preocupadas em excluir a Laser, passaram até a tratar o grampeador amigavelmente, incluindo o pobrezinho em suas rodas de fofoca, só para gozarem a felicidade de ver a Laser totalmente só.

....Até que, depois de anos de faculdade grampeando e cansado de tanto crap crap crap crap, ele pifou. Desiludido com a vida e reduzido a um lixo inútil, já sem motivos para ser amigo das canetas que, num piscar de olhos, o retiraram de sua roda, contava os dias até que eu o descobrisse sem utilidade e o descartasse. Ao tentar grampear minha anotações sobre elementos de semiologia (não pensem que do nada fiquei inteligente, to só tentando desvendar um trabalho aí bem chulé...o de conclusão de curso) percebi que meu amigo havia subido no telhado, vestido o paletó de madeira, que tava comendo capim pela raiz. Enfim, morreu o coitado. Foi então que o coloquei ao lado de minha cama e comecei a conversar com ele. E ele me contou esta triste história. E eu penso: por que as pessoas não são como as coisas? Quando não funcionam, a gente joga fora.

....Em homenagem ao falecido: minha foto em B, feita com a srta Laser.