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18 janeiro 2006

Caminhos

As parcas

Levado por uma corda, ele caminha. Segue o balançar dolorido das amarras, tentando desvencilhar-se apenas dos pequenos entulhos que o encontram. Seus olhos chamuscados pelo sol arrastam o olhar pelo chão em fuga da claridade. Dizem que depois de certo tempo, a pele humana torna-se insensível pela aspereza criada com o atrito constante. Mesmo assim, entulhos atrapalham o andar compassado, cantado pelas cordas. E ele se concentra cada vez mais nos malditos pedregulhos que se atravessam em seu caminho. As pedras tomam dimensões maiores, refletindo cada vez mais o sol dolorido e penoso para ele. De algumas é preciso passar por cima, pois a folga da corda nem sempre permite desvios. De outras, faz-se necessário o encaixe das solas dos pés. E assim vai-se moldando o caminho, conforme seus pés o trilham, a corda balança e o sol cega seus olhos.

Os porcos

Levados por um corredor, eles caminham. Seguem os passos uns dos outros na única via do concreto molhado, sem obstáculos a não ser a sombra um do outro. Seus olhos baixos em vão tentariam fugir pelas imensas paredes que os separam de suas casas. Dizem que depois de certo tempo, a adrenalina do corredor do abatedouro faz com as glândulas dos porcos liberem uma toxina envenenando a carne do animal. Mesmo assim, seguem velozes seus caminhos, empurrados por espadas de ferro que mostram o poder de quem comanda o ciclo da vida. E se concentram cada vez mais nos gritos que escutam vindo de um lugar não muito distante e cada vez mais próximo. Os malditos grunhidos. Mesmo não podendo ensurdecer à sua vontade, eles continuam. Faz-se necessário o cumprimento da ordem não natural da vida, pois não há como voltar. E vão adiante, conforme os cegos mandam.