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06 dezembro 2005

Como acabar com seu domingo: receitas para a vida

....Neste domingo fui fiscal de um concurso para a polícia militar. Chamou a atenção o número de meninas que se inscreveram – cerca de um terço. Para uma profissão dominada pelos homens, achei um grande avanço. O problema de ser fiscal de prova é sempre o mesmo: aquele mané que fica sozinho na sala, fazendo a prova até o último minuto, enquanto os demais foram embora há mais de uma hora. E para ser mais odiado ainda, fica se distraindo e olhando para as paredes, com a porra da caneta na boca. Nessas horas, até o ruído do roer da tampa da caneta te incomoda. Por deus que se aquele cara ficasse mais dez minutos (faltavam 20min para encerrar o prazo quando ele entregou o caralho da prova) eu dava uma bolacha nele. Nunca vi alguém demorar tanto para preencher uma bolinha na folha de respostas. Meu primo de 7 anos tem habilidade motora superior.

....Mas bem pior que este candidato lerdo, foi minha companheira de sala. Uma senhora de uns 60 anos que não calava a boca um minutinho. A mulher encheu meus canecos. Os candidatos estavam querendo esfolar ela, pois não parava de interromper a prova para dar “recadinhos úteis”. Uma hora ela soltou a pérola:

- pessoal, não querendo interromper, mas se vocês não gostam de matemática, e eu sei que a maioria não gosta pois fui professora durante vinte anos (meu jisuis, só o que faltava a mulher contar a vida dela agora, eu pensei), façam a de português primeiro (óh, que conselho grandioso....).

Passados dez minutos:

- ou façam a de legislação primeiro. Tem prova de legislação, né? (caralho....)

....No meio da tarde, ela começou a puxar assunto comigo. Eu, já sem paciência para fingir ser simpática e começando a dar sinais de intolerância, só abanava a cabeça. Não entendia metade do que ela falava. Aliás, ela não falava, ela miava. Gente, por deus, por mais que eu tenha fama de ser brava, sou super simpática, mas não aguento muito tempo gente chata. E ela realmente acabou com todas as técnicas que eu tinha para ficar calma.

-Elisa?
-Hmm
-É Elisa teu nome, né?
-Ahãm (nem tentei corrigir para não ter mais assunto)
-Tu vê a novela das oito?
-Não
-A belíssima, tu não olha?
-Não. Eu estudo.
-Todas as noites?
-Sim
-E o que tu estás achando da Glória Pires na novela?
-Eu não olho a novela
-Ela tá tão sem graça na novela. Feinha e sem sal. Eu acho que eles deveriam fazer ela..bla bla bla bla bla bla bla bla e não assim. Tu não acha?
-Minha senhora, eu não olho novela
-Mas nem a das seis?
-Não
-Eu adoro a das seis, mas não acredito em reencarnação. Sabe que os atores bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla. Tu acredita em reencarnação?
-Não. Só em carma.
-Em carma? E como que é isso?
-Eu preciso tomar água, logo volto.

....Meia hora depois estava de volta e fui sentar no fundo da sala, cuidando para ficar estrategicamente acomodada num lugar isolado de outras classes vagas, para não correr o risco de uma nova aproximação. Bicho do mato? Pode até ser, mas acho que foi instinto de sobrevivência. O dela, pois mais uma pergunta sobre novela ou uma receita da ana maria praga que ela tentasse me passar eu enfiava a caneta do aluno lerdo no fiofó dela.