Free Image Hosting by www.randomcrap.net

28 dezembro 2005

Abrindo nossas caixas de pandora

Por onde vou guiar, o olhar que não exerga mais. Dá-me luz, ó deus do tempo, nesse momento menor, pra eu saber seu redor. A gente quer ver horizonte distante

....Acho quase inacreditável a capacidade que alguns elementos, geralmente visuais, têm de recordar coisas que julgávamos esquecidas. Por isso amo fotografias. Cada vez que reviro meus álbuns da infância me surpreendo com uma nova descoberta. Semana passada, cheguei em casa e minha mãe estava em prantos. Perguntei o porquê das lágrimas e ela me estendeu um cartão de Natal, enviado por meu tio. Não precisei abrir para descobrir o que a levou a chorar como um bebê desesperado: a capa trazia flores, mais conhecidas como “brincos de princesa”. Eram iguais as que povoavam o jardim de minha avó, falecida há 5 anos.

....As estrelas de domingo, no meio do rio, lembraram-me as noites que eu e meu pai deitávamos no jardim, em cima de plásticos de bolinhas (aqueles usados para transportar objetos sensíveis. Tenho uma atração irresistível por eles), e ele me contava histórias maravilhosas sobre as galáxias, a criação do universo, o brilho de estrelas que já morreram há 20 anos e continuamos enxergando, o cruzeiro do sul, as três marias, as pessoas que morrem. E as corujas. Ele era apaixonado por corujas. E é claro, sou fascinada por elas também. Não foi uma nem duas vezes que cheguei em casa tarde da noite, e alguma delas estava a espiar a rua em cima de um poste. Ficava olhando para ela e perdia a noção do tempo. Calculo que certa vez fiquei mais de uma hora sentada no banco da moto, admirando a beleza de uma coruja clara que me fitava desconfiada. Fiquei com torcicolo uma semana depois daquilo.

....Gosto de entrar no porão da casa. De tirar a poeira que cobre os móveis e sentir o cheiro da madeira novamente. De ver que o tempo muda a textura mas não a forma. De descobrir um detalhe novo, mesmo que estes sejam frutos da imaginação.