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20 abril 2005

Escândalos e desavenças

”O escândalo é uma manifestação cultural”. Quando escutei esta frase parei, franzi a testa, baixei os olhos procurando alguma coisa para me concentrar, tornei a mirá-lo e desatei no riso. Não que não acredite que o escândalo realmente seja uma manifestação cultural, na verdade, nunca tinha pensado a respeito, mas a composição da frase, aliada à lustrosa cara de pau do sujeito, deu ar importante e pomposo à conclusão. O pior é que ele continuou sério e grave diante de meus risos incontrolados. “Quase um escândalo, essas gargalhadas” disse ele, encerrando a conversa. Contive então a emoção e tentei desvendar o que aquela mente perturbada pensava. Eu sabia que ele era louco, todos sabiam, mas o que o levaria a tal conclusão no meio de uma conversa sobre sexo? Todos por um momento tentaram disfarçar o embaraço que ficou entre minha ousadia de rir dele e a agressão desmedida dele comigo.

“Por que você diz isso? Gostei da conversa, vamos então falar sobre o escândalo como produção de sentido, o meu e o do resto do mundo”. Disparei a provocação e fiquei firme, sem tirar os olhos dele. Sem piscar. Uma mistura de raiva por ter sido agredida e ódio por estar agredindo. Solene e inatingível como sempre, levantou-se e foi embora, me deixando imprestável para o resto do dia. Pessoas estranhas me dão nos nervos. Ficamos a semana toda sem trocar uma palavra, sempre mudos e mal humorados. Algumas pessoas têm o poder de te atingir com pouca munição. E ali estávamos mutuamente feridos.

O orgulho é um dos piores defeitos humanos, ele trava e mutila. É falso pois nunca permite transparecer o verdadeiro. Ele esconde a verdade e geralmente se manifesta de maneira romanesca. O orgulho é escandaloso. “O orgulho seria também uma manifestação cultural?” com essa pergunta cairam os muros e foi como se nunca nada tivesse acontecido. Quanto escândalo por causa de bobagens...