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03 dezembro 2004

Espírito de Natal

....Adamantina era assim: chata. Os coleguinhas nunca gostaram muito dela, ela foi sempre esquisitinha, sem gracinha, sem estilo. Não colecionava papéis de carta, não mascava chiclés da moda, não sabia andar de skate, nem de patins, não tinha dinheiro para comprar sonhos na bodeguinha do colégio. Não sintam peninha dela, era chata. Suas trancinhas ridículas e esvoaçantes irritavam. Seu jeito atrevido - menina boca suja! Era chata, isso sim. E perversa. Onde se viu criança pequena, tamanho de nada gente, não gostar de natal. Adamantina não gostava. Pronto. Teimosa como sua mãe, uma puta metida a gostosa, derrubada pelo tempo, que teve o corpo desgraçado por um filho depois dos quarenta. Agora como conseguir mais homem? Acabada desse jeito o preço era menor. Vaca da Adamantina. Já botava o pé e o cú no mundo desgraçada.

....Mas o natal a entediava, sempre. Fazia aniversário pertinho, não sabia o dia direito, mas era perto, sua mãe dizia. Mais um motivo para as duas se odiarem. Chegava final de ano, a mãe fazia pinheiro, enchia de penduricalhos velhos e sujos. Ada quase morria trancada no quarto, sufocada em 41,5 graus, cheia de tudo. Entupida do feijão queimado do almoço. Mas era chata. Na manhã daquele ano, no dia 24 de dezembro, sua mãe morreu.

....E Adamantina sorria. Livre. Da vaca e do natal.