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26 outubro 2004

O dia em que papai noel perdeu o saco

Papai noel era um cara muito simpático. Principalmente com as meninas. Gostava de arte - ao menos era o que todos pensavam, e ainda por cima era músico. E tinha mestrado. Em suma, a sensibilidade em pessoa. Todos sempre dizem que os artistas são tão sensíveis que não conseguem lidar com o mundo onde vivem, então se refugiam nas drogas, ou no egocentrismo ou simplesmente são esquisitos. Ou extremamente estúpidos. Ou nada disso. Ou são charlatões. Mas Papai noel era um cara, digamos assim, diferente. Era tarado. Ainda mais por ter se casado com uma nazista. Gorda e cruel. Isso ninguém nunca entendeu. Papai noel era um cara de azar.

Mas todos admiravam papai noel, até o dia em que ele perdeu o saco. Eu vi quando ele (o saco) caiu. Esfacelado, velho, esfarrapado, podre, cheio de horrores, medos e escuridão. Era um saco vazio, sem fundo, sem começo, tecido de desgraças e ilusões. Um saco que escondia um coração cansado e preconceituoso, incapaz de sentir pena. Pena é o maior sentimento de amor que temos. Pensem bem: é pena sim. Pena é o extremo do amor, o amor maior, o amor sem egoísmo, o amor sem pessoa. O Incondicional. Pena. O saco não tinha pena. O saco era cego. Cego para a beleza minúscula da ilusão dos pequenos. A verdadeira beleza: a pequena, a insignificante, a triste beleza que só os olhos pequenos e cheios de pena podem ver. O saco não tinha pena. O saco não tinha olhos. O saco era apenas um farrapo de 60 anos que decorava cifras. O saco era apenas alguém que decorava Munch, Van Gogh, Renoir, Klee, mas nunca foi capaz de enxergar o interior dos ninguéns. Os ninguéns são os verdadeiros artistas do mundo, eles carregam a beleza pequena.