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28 outubro 2004

Madame Bovary

....Como não tenho nada para postar e estou com muito trabalho para pensar em algo, coloco a resenha do trabalho de História do Cinema.



Crítica

A análise do filme é prejudicada pela leitura do livro. Por ser baseado em um clássico da literatura, é impossível fugir da comparação entre as duas obras. O filme tem um ritmo lento, câmeras paradas, poucas músicas, e um narrador que conta a história na medida em que o tempo passa. Vale ressaltar que o narrador geralmente não tem a necessidade de se fazer presente, uma vez que o que ele conta é redundante, pois é o que a cena mostra. Na cena em que inicia o baile, o narrador diz: e chegou o dia do baile.

Apesar de ser considerada por alguns críticos uma das melhores atrizes francesas, a personagem de Huppert, Madame Bovary, é inexpressiva e não demostra emoções durante praticamente todo o filme. Entendemos a dificuldade de reproduzir uma personagem Mesmo no dia em Emma diz ser o mais feliz de sua existência, no baile, ela não expressa-se como tal. O filme não consegue retratar a essência da obra de Flaubert. Por ser um romance intimista e existencialista, nós ficamos conhecendo a Madame Bovary através de seus pensamentos, angústias e reações. Apesar do filme manter-se até bem fiel ao livro, a atriz e o filme não conseguem reproduzir a crise que a personagem vive. Mas entendemos e questionamos: como filmar o aborrecimento sem ser fastidioso?

Sem inovações estéticas, o filme é bem tradicional. Os diálogos são quase poéticos, muito semelhantes aos do livro, soam falso. As cenas são sempre muito paradas, com exceção da cena em que Boulanger seduz Emma, onde as cenas entre os dois são intercaladas com a cena do discurso do prefeito, e inclusive os diálogos fazem parte de um único enredo, se misturam e reforçam um ao outro. Outro recurso usado no filme é a reação de Emma quando lê a carta de Rodolphe Boulanger, quando o mesmo desmarca a viagem de fuga dos dois, onde é usada a sombra de Emma. Além disso, quando Emma se envenena com Arsênico, a câmera assume o olhar dela, ou seja, a câmera fica desfocada e cambaleante, como se fosse a própria Emma e os efeitos do veneno agindo sobre ela. Ainda sobre a utilização de recursos, aparece três vezes no filme, de forma abrupta, um cego horrendo, que assusta o telespectador com a maneira como ele aparece em cena.

O ponto mais importante da história seria o baile, onde Emma passa a ter ilusões e a viver literalmente da imaginação de histórias românticas. O estranho é que no filme Emma passa inexpressiva durante a festa, ela observa pessoas com as quais se identifica mas não parece admirá-las, parece que ela apenas observa. É como se Emma estivesse num sonho, e idealizasse tudo o que vive. O filme também mostra a inexperiência da Igreja em abordar problemas existenciais das pessoas. Ao procurar ajuda na Igreja, Emma se depara com o padre, que acredita que quem tem pão e casa é abençoado por Deus e não existe infelicidade.

Algumas críticas sociais ficam perceptíveis no filme, como a futilidade dos valores burgueses, a inutilidade da igreja quantos aos males da alma, a crítica ao romantismo, que ilude a cabeça das pessoas, que passam a achar que a vida deve ter grandes amores e grandes emoções. Emma tem a imaginação exaltada pelas leituras românticas, e isso fica claro no filme. Segundo Neusa Barbosa, (crítica do site cineweb.com.br), “o grande acerto da interpretação de Huppert está em colocar em evidência a enorme sede de viver de sua personagem, aproximando o espectador da humanidade desta que é uma das grandes personagens trágicas da literatura mundial”.