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08 setembro 2004

Diário de bordo

Até parece chique, mas é só mais uma ogra na cidade grande

....Eu adoro ônibus. Mas odeio os que têm ar condicionado. Sempre passo frio. E me sinto sufocada. Síndrome da pobreza. Sabe quando o ar condicionado dá gripe? É, coisa de pobre. Então, hoje, na aventura da ogra malvada à capital, sofri um pouco mais que o habitual.

....7h30min. 19ºC forçados. Vento gelado batendo na cara. Tiro de misericórdia: rádio sintonizada na Encanto FM...programa Sertão Encanto. Uma hora e quarenta e cinco minutos escutando Bruno & Marrone, Daniel, Luciano e Zezé de Camargo, e nem lembro o resto. A atendente tinha vendido mais passagens que lugares no ônibus e quase fiquei de fora. Ao meu lado estava um cara muito mal humorado, falando no telefone, muito alto, sobre as cargas que a Elegê não tinha deixado ele carregar por que o caminhão dele não tinha seilaoque. Ele ligou para umas dez pessoas para contar o ocorrido e falar mal da Elegê.

....Chego no curso com trinta minutos de antecedência. Já deu pra notar que isso não é bem visto na capital, o pessoal não gosta de fazer sala. Mas desta vez foi diferente, o professor queria mesmo falar comigo sobre umas fotos que mandei para ele. Olha só, o cara me deu altos elogios, fez eu jurar que me inscreveria no concurso fotográfico da sony e pediu autorização para publicar minhas fotos no site da escola de fotografia. Me senti o máximo. A bolachinha mais recheada do pacote.

....A volta, todavia, foi dramática. Comi um hamburger suspeito, que me deixou apreensiva. No ônibus, como não podia ser diferente, 19ºC forçados. Mas não pensem que aqueles dezenove são mesmo dezenove. A sensação era de que o minuano batia dentro daquele recinto móvel. E a meu lado, um senhor de 73 anos, apresentado como Josias. Acho muito estranho passar duas horas ao lado de uma pessoa sem conversar, e resolvi “puxar” assunto com o vovô, que me parecia muito simpático.

Quem muito fala uma hora se cala

....Poiséné. O vovô desatou a matraquear, parecia criança que nunca ganha atenção e quando se vê no centro tem um piripaque(?) atrás do outro. O cara me contou toda a sua vida, e nem tive coragem de interrompê-lo, tamanha a paixão que colocava na sua história. Sei toda a vida dele e dos filhos. Lembro até dos apelidos que Josias tinha quando pequeno: Jozibobó, Josias come os dias, Pardaleco. Josias me contava sobre a filha mais moça dele, que agora tinha 30 anos, que era muito parecida comigo. Ele disse que ela até tinha um jeito cantado de falar como o meu. Josias ainda reparava nas nossas semelhanças quando repentinamente tirou três bergamotas de uma sacola.

....Que pavor. Pressenti o mal que aquelas bergas fariam naquela altura do campeonato. Não tive como negar o pedido do velhinho. Descasquei para ele duas bergamotas. Já estava sendo acusada de desaforada por resistir e acabei aceitando e descascando uma pra mim. Foi horrível. O pessoal do ônibus, com toda a razão, começou a reclamar do cheiro de bergamota. Mas o vovô era mais importante que o ônibus todo. Vou parar por aqui que o texto já tá longo demais. Tirei até uma foto com o Josias. Foi uma das pessoas mais incríveis que conheci.